NOTÍCIAS - Painéis Solares Termodinâmicos

NOTÍCIAS - Painéis Solares Termodinâmicos

Sistema de Aquecimento

Uma vez acionado, o sistema comprime o fluído refrigerante que aquecido vai até o condensador. O condensador, que está internamente acoplado no reservatório técnico cheio d'água, transfere o calor do fluído refrigerante comprimido pelo condensador, para a água do reservatório térmico, fazendo assim a primeira troca de calor. Continuando o processo, o fluído refrigerante do condensador vai até o painel solar evaporador e completa a segunda troca de calor, entre o fluído refrigerante e o ar externo que está no painel solar evaporador. O ciclo se facha com o retorno do fluído refrigerante para o compressor, garantindo a transferência de calor para a água armazenada no reservatório térmico e que pode atingir até 50ºC.

 

A polémica dos painéis solares termodinâmicos da Energie

Na sequência da visita do primeiro-ministro à fábrica de "painéis solares termodinâmicos" da Energie, levantaram-se muitas vozes de indignação por se tratar de uma tecnologia muito diferente dos painéis solares térmicos convencionais. Algumas das críticas são pertinentes, como onde se chama a atenção para o facto de não se tratar de um painel solar mas de um sistema de bomba de calor. Outras vozes porém são pura demagogia e aproveitamento político desinformado, como onde se sugere que todos os painéis solares consomem energia eléctrica, e outras são de tal modo distorcidas pelo jornalista que se tornam de todo incompreensíveis, como onde se confundem as palavras fotovoltaico e termodinâmico.
Afinal parece que a culpa é das entidades certificadoras que deixaram passar a palavra "solar" no nome, o que legitima a inclusão dos sistemas da Energie no programa anunciado pelo Governo.

Energia Solar Termodinâmica

Os sistemas solares Termodinâmicos são equipamentos baseados no princípio de refrigeração por compressão, Princípio de Carnot, constituídos por um painel solar e uma bomba de calor. Permitem efectuar aquecimento central e aquecimento de águas sanitárias.

O Painel Solar, que é o principal componente, colocado no exterior assegura a captação da energia de:

- Radiação solar directa e difusa

- Ar exterior, por conversão natural

- O efeito do vento (quase sempre existente)

- A água da chuva

Funcionamento

A diferença de temperatura provocada pelos agentes externos, garante que o Klea (fluído frigorigénio ecológico) se evapore no interior do painel solar. A ausência de vidro no painel permite aumentar as trocas térmicas por convecção.

Após a passagem pelo painel, o Klea é aspirado pelo componente mecânico do sistema, o compressor, o qual lhe eleva a sua temperatura e pressão, que é por sua vez transmitida ao circuito de água através de um permutador de calor.

Antes do Klea regressar ao painel solar é necessário que ocorra um estrangulamento, ou seja, reduzir a pressão e garantir que atinge novamente o seu estado líquido, completando assim o ciclo.

A produção de água quente é assegurada na totalidade, necessitando apenas de um baixo consumo eléctrico para funcionarem. Estes sistemas são capazes de extrair calor suficiente para aquecer um edifício até à temperatura de conforto, mesmo nos dias frios de Inverno. O mesmo equipamento usado no aquecimento central pode ser ainda utilizado para aquecer piscinas.

Segunda polémica em dois anos à volta da Energie

A polémica voltou à empresa Energie, da Póvoa de Varzim, pela segunda vez em dois anos. A empresa divulgou hoje ser detentora de um certificado de sistemas solares térmicos passado por entidades europeias, no passado dia 10 de Março, que não convence os especialistas como Oliveira Fernandes, para quem equipamentos anunciados como funcionando com sol, céu nublado, chuva e à noite “não são solares”. “Energia solar é para captar energia solar”, remata.

Na edição de hoje, o PÚBLICO dá conta do coro de protestos surgidos pela visita do primeiro-ministro e do ministro da Economia às instalações da Energie, por considerarem que a empresa faz “publicidade enganosa” a bombas de calor com recurso secundário a radiação solar, e que designa por painéis solares termodinâmicos. A ambiguidade de publicitação entre dois produtos que tecnicamente são considerados muito diferentes – colectores solares térmicos e bombas de calor - é a crítica feita à Energie, empresa presidida pelo empresário Luís Rocha, que é também presidente da Associação Comercial da Póvoa de Varzim, numa altura em que a energia solar é especialmente valorizada. Recentemente, o Governo lançou uma campanha de apoio à aquisição de colectores solares térmicos.

Em comunicado emitido hoje, a empresa responde que as “acusações são falsas” e garante possuir certificações passadas pela Solar Keymark (dinamarquesa) e pela Dincertco (alemã), consideradas entidades de topo nesta área. “Estas certificações atestam o produto da Energie como sistema solar térmico”, afirma.

Foi com esta certificação que a empresa diz ter garantido a inclusão no conjunto de empresas que podem aceder à campanha do Governo. Também a porta-voz do gabinete de Manuel Pinho se manifestou contra a notícia do PÚBLICO, afirmando que “a empresa cumpre os critérios para as empresas de colectores solares térmicos”. Escusou-se, no entanto, a comentar a ambiguidade no discurso da empresa entre os equipamentos que usa e a designação que lhes dá – tal como se vê na sua página na Internet – durante a visita dos dois governantes, marcada para promover colectores solares térmicos e não sistemas de bombas de calor. A visita assinalou a entrada em expansão da Energie que vai, segundo a própria, "duplicar a produção de 12 mil painéis solares termodinâmicos para 24 mil painéis solares termodinâmicos por ano".

O certificado apresentado hoje pela empresa é a folha de rosto de um documento onde se menciona a conformidade da unidade da Póvoa de Varzim na produção de “sistemas solares térmicos” do tipo “Eco 300esm”. As especificações da certificação não foram divulgadas.

Numa busca na Internet ao tipo de sistema referido, o PÚBLICO encontrou imagens referenciadas a uma tecnologia francesa de um reservatório termocumulador, mas não de colectores solares, mencionando-se ainda a utilização de “fluído frigorígeno”, à semelhança dos sistemas termodinâmicos da Energie.

Este não é o primeiro confronto entre a Energie e o sector, fragmentado por diversas marcas. Em Setembro de 2007, perante uma iniciativa de publicitação desta tecnologia por parte da Energie, a Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES) emitiu então um comunicado, alertando que o equipamento publicitado surgia “abusiva e erroneamente” designado por colector solar, quando – acrescentava -“não é mais do que uma simples bomba de calor, visto que o suposto painel não é mais do que um evaporador”.

No comunicado, a SPES notava ainda que a própria empresa, na sua página na Internet, “reconhece que os painéis solares captam de noite e do vento, deixando para a incidência do sol uma situação de apenas benefício suplementar ao equipamento mas não essencial, o que, desde logo, condena o equipamento enquanto colector solar”.

"É claro que a temperatura do ar, o vento e a chuva - tudo é comandado pelo sol. Mas é evidente que o promotor se baseia na associação à energia solar, isto é, da radiação do sol para vender as suas bombas de calor”, escreveu a SPES na altura.

O actual presidente da SPES e presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, disse hoje ao PÚBLICO que reitera a posição assumida em 2007 pela SPES sobre os painéis termodinâmicos. Quanto ao certificado anunciado ontem, adianta que a “associação tomará uma posição quando souber do que se trata”.

A SPES é uma associação que congrega os interesses do sector, criada em 1980 e inclui entre os seus objectivos prioritários a promoção da energia solar em Portugal, “assegurando a qualidade dos equipamentos e serviços”. É também a delegação portuguesa da International Solar Energy Society.

Do ponto de vista técnico, sistemas como o da Energie são classificados fora da energia solar, por consumirem substancialmente mais energia eléctrica. Neste caso concreto, o sistema termodinâmico consome 10 vezes mais energia eléctrica do que um colector solar térmico.